Tenho uma compulsão que não me envergonha e não luto contra ela porque seria tremendamente infrutífero. Pelo contrário, alimento essa compulsão 1x por semana, com gosto. Por causa da surdez, desde muito nova me tornei uma devoradora de livros. Também por causa da surdez (acho eu), minha memória é uma porcaria, o que significa que leio um livro enorme e, dois dias depois, já não lembro de quase nada sobre ele. Às vezes me pergunto se as áreas do cérebro que não receberam acesso aos sons durante pelo menos quinze anos (o período entre descobrir a surdez, entrar para o armário e finalmente começar a usar aparelhos auditivos todos os dias) foram afetadas de modo irreversível. Tenho a sensação física, esquisitíssima, de que meu cérebro não armazena muita coisa. E não, não fui ao neurologista ver isso e nem pretendo, rsrsrs.
© 2025 Paula Pfeifer
Substack é o lar da grande cultura