Carta à avó
Nosso DESAFIO de final de ano: a escrita de uma carta para alguém que você tem muito a dizer
Vó,
Mordi uma ameixa ontem à noite e aquele gosto doce me levou imediatamente para a sua mesa de Natal. Você nunca se importou com os dramas e as histerias que aconteciam no dia 25 de dezembro na nossa casa; apesar deles você decorava cada canto, enchia a árvore com luzinhas coloridas e montava a ceia de Natal mais farta que já vi. Fecho os olhos e sinto o gosto do seu arroz à grega, do bolo de nozes, do tender com fios de ovos, dos camafeus e brigadeiros, dos cachos de uva Itália. Sinto o aroma do peru que você passava dois dias preparando com todo cuidado, e escuto sua voz me dizendo baixinho - sempre escondida para não despertar a fúria da mãe - “feliz Natal, minha violetinha”.
Faltava conexão, conversa e afeto real entre todos nós, mas também sobrava esperança. Em todo final de ano você tinha o mesmo desejo que eu: que eles nos dessem trégua, que pudéssemos sentar à mesa e compartilhar risadas e bons momentos como uma família normal. Mas não consigo lembrar de uma noite de Natal feliz sequer. Nessa época do ano penso muito em você.