Diário da Surdez: Bem-te-vi
Estou sentada na mesa da cozinha tomando um café em silêncio, antes que as marretadas da obra do vizinho recomecem. Um som lindo invadiu a casa: “bem-te-vi, bem-te-vi”. Meu coração bateu asas e voou. Esse passarinho nem imagina o que o seu canto fez comigo. “Bem-te-vi, bem-te-vi”. Pisquei os olhos e fui parar na sala dos meus avós paternos, numa das raras vezes em que dormi na casa deles na infância. Meu avô Alvaro, um alemão alto e magro muito elegante, estava ao meu lado no sofá quando perguntou se eu estava ouvindo o mesmo som que ele. “Um passarinho, vô” - respondi.