Diário da Surdez: burra em matemática
Eu não sabia que era surda até o segundo ano do ensino médio, e isso me custou muito caro.
Abrimos o cofrinho de plástico em formato de bola de futebol do Fluminense. Lucas queria contar as moedas guardadas em 2024 para descobrir quanto dinheiro havia lá dentro. Ele se pôs a separá-las em montes iguais, e quando finalizou a tarefa me pediu ajuda com a contagem final. Mal sabia eu que aquela cena, no melhor estilo Tio Patinhas, me levaria de volta à sala de aula nos tempos mais difíceis e obscuros da minha deficiência auditiva.
“Sou péssima em matemática" , pensei em silêncio enquanto a fazia a conta de quantas moedas de 5 centavos eram necessárias para juntar R$1. Luciano percebeu o que estava acontecendo e ofereceu aconselhamento em raciocínio lógico. Enquanto ele falava fui transportada para a sala de aula do primeiro ano do Ensino Médio do Colégio Marista Santa Maria.
Eu ainda não tinha um diagnóstico médico, mas frequentava a escola com surdez severa não tratada sem compreender o motivo das minhas dificuldades. Tudo o que não exigia explicação e podia ser facilmente entendido com leitura - como português, história, geografia - eu tirava de letra. Mas física, química e matemática eram sessões diárias de tortura com requintes de crueldade, e o pior deles era que os professores escreviam no quadro-negro enquanto falavam de costas para mim. Com as bocas fora de alcance, a única coisa que me sobrava era tentar decifrar aqueles códigos em forma de números e fórmulas nos livros, mas jamais consegui.