Mariana Mello, 21 anos, é umaestudante de Fonoaudiologia surda que ouve que compete nas Surdolimpíadas. Nossa convidada de hoje respondeu algumas perguntas especialmente para nossa newsletter <3
Você nasceu com surdez profunda bilateral. Qual é a lembrança mais antiga da sua surdez?
Nasci de 6 meses com 879 gramas. Tive muitas complicações, e devido ao antibiótico que precisei usar para sobreviver, fiquei surda profunda dos dois ouvidos. A minha surdez foi descoberta com 4 meses de vida, então não tenho muitas recordações. Acabei fazendo o implante coclear com 1 ano unilateral . Uma lembrança que tenho é do implante de caixinha batendo na minha costas quando eu corria.
Foram 12 anos fazendo fono até 4x por semana. Você lembra do que pensava e sentia nesses momentos?
Eram momentos divertidos e de muito aprendizado sem eu saber. Adorava quando chegava os dias das sessões de fonoterapia e fazia 2x em Joinville no centrinho e 2x tinha que viajar de ônibus para Itajaí com uma fonoaudióloga especializada em implante coclear, isso tudo há 21 anos.
Como é o seu resultado com o implante coclear? Conte um pouco da sua experiência com ele.
A minha mãe fala quando foi ativado o implante coclear eu não chorei e nem ri, somente procurava todos os sons com rostinho de admiração, e cada dia que passava observava tudo ao meu redor até que um dia saiu as primeiras palavrinhas “AuAu(cachorro) , Apo(Sapo) e outros.” A minha experiência com o meu aparelho foi a melhor possível pois tornou minha vida mais colorida e sonora, onde cada dia que passava ficava mais comunicativa, mais corajosa e querendo desbravar o meu mundo foi daí que abriu a porta de comunicação com as pessoas.
Você é acadêmica de Fonoaudiologia! O que te motiva a se tornar uma Fonoaudióloga? Quais os planos após a formatura?
Sim, acadêmica nessa profissão que tem o meu coração, me motiva porque passei 12 anos fazendo fonoterapia 4x por semana, com esses profissionais incríveis que me inspiram muito. Os meus planos são fazer uns cursos para aprimorar os meus conhecimento e trabalhar na área de reabilitação ou linguagem. Gostaria de passar em um concurso no centrinho de Bauru ou Joinville. Inspirar as crianças que elas podem ser tudo o que elas quiserem e também inspirar os pais e a família para que jamais privem seus filhos. Não há limites para nós.
Conta pra gente a sua história com a natação e com as competições internacionais. Você nada com ou sem implantes?
A natação entrou em minha vida aos 10 anos de idade, eu nado na APJ (Associação Paralímpica de Joinville). Dali para a frente, vi que eu e a água tivemos uma sintonia, esse esporte é a minha vida. Sou embaixadora de uma marca de implante coclear e fui escolhida entre 5 jovens implantados do mundo todo para conhecer a Malala em Londres (representei o Brasil em 2023). E também me tornei embaixadora do instituto de uma grande empresa aqui de Joinville.
Sou campeã catarinense do PARAJAC, ganhei 2 medalhas de prata no Surdolimpíadas em 2021, 6 lugar no mundial na argentina em 2023, em Londrina foi o brasileirão foi 7 medalhas de prata e 1 ouro e 4 pratas no Sudamericanos no Equador em 2023 e também em 2024 conquistei 1 bronze e 3 de prata no Panamericano de surdos em Rio Grande do Sul e teve o Campeonato Brasileiro de Natação 2024 conquistei 7 medalhas de pratas e 1 de bronze na Bahia. E esse ano conquistei o índice para ir a Deaflympics 2025 (Surdolimpíadas) no Japão. Em todas as competições não posso usar IC ouaparelho auditivo, mas nos treinos diários, intercalo o uso da capa a prova d’água com dias em que não uso as próteses para treinar.
Qual é o seu melhor conselho para os surdos que ouvem que são apaixonados por esportes?
O meu conselho para vocês é o seguinte: qualquer esporte que você venha a fazer é muito importante para sua saúde e mais aindae para a sua mente. Eu nunca imaginei que seria uma surdoatleta nesse nível, meus pais nunca me pressionaram, mas sempre me apoiaram em tudo e as coisas foram acontecendo. O esporte transforma vidas. Então se você tiver a oportunidade de fazer qualquer tipo de esporte faça. O esporte é um grande aprendizado de vida, molda você como ser humano , com disciplina, dedicação, equilíbrio e resiliência e muito amor.
O que são as surdolimpíadas? Quais as regras e diferenças de uma olimpiada para as surdolimpíadas?
As Surdolimpíadas são um evento esportivo internacional para atletas surdos, organizado pelo Comitê Internacional de Esportes para Surdos (ICSD). A primeira edição ocorreu em 1924, em Paris, sendo a primeira competição esportiva para pessoas com deficiência reconhecida mundialmente. As Surdolimpíadas são realizadas a cada quatro anos, seguindo o mesmo ciclo dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos.
As principais diferenças entre as Olimpíadas e as Surdolimpíadas são:
• Nas Surdolimpíadas, os árbitros utilizam sinais visuais, como bandeiras e luzes, em vez de apitos ou comandos sonoros.
• A comunicação entre atletas e técnicos ocorre por meio da Língua de Sinais e gestos.
• Para competir, o atleta deve ter uma perda auditiva de pelo menos 55 decibéis (dB) no melhor ouvido.
• Diferente das Paralimpíadas, não são permitidos aparelhos auditivos ou implantes cocleares durante as competições, garantindo igualdade entre os participantes.
• A maioria dos esportes segue as mesmas regras das Olimpíadas, com algumas adaptações visuais. No atletismo, os árbitros usam sinais visuais para indicar a largada. No vôlei, o juiz levanta uma bandeira para marcar o saque. No futebol, não há apito; o árbitro usa gestos para interromper a partida.
Sigam a Mari no Instagram!
Boa semana,
Paula
P A R A B É N S