“Eu odeio ser surdo” – aí está uma mensagem que recebo praticamente todos os dias. Ontem, compartilhei 4 coisas que eu gosto na surdez e, contrariando minhas expectativas, a maioria das pessoas discordou, dizendo que não há nada para se gostar sobre ser surdo.
Hoje, recebi uma mensagem particularmente tocante, que me fez revisitar o passado numa reflexão para quem foi perdendo a audição, assim como eu…
DE VOLTA AO PASSADO
Aos 5 anos eu já ficava com raiva por ter que passar tardes deitada na cama da minha avó esperando algum remédio de otite fazer efeito. Meus amiguinhos todos brincando na rua – nessa época eu ainda ouvia o que acontecia lá fora muito bem – e eu presa em casa por causa dos meus ouvidos, sempre inflamados.
Aos 6 ou 7 anos eu já perdia a paciência com aquele zumbido chato que me acompanhava o dia inteiro. Dizia: “Mãe, tem um apito no meu ouvido!”. Lembro de uma vez em que ela me deixou matar aula e ficar em casa assistindo o Xou da Xuxa de tanto que reclamei do apito.
Aos 12 anos eu já morria de medo das caronas que pegava com os meus vizinhos – estudávamos todos na mesma escola e os pais faziam rodízio para nos levar. Quando os pais começavam a me fazer perguntas no banco da frente, eu gelava porque não entendia direito o que me perguntavam.
Aos 13 anos, eu já zerava as provas orais do cursinho de inglês. Como é que iria fazer um milagre e entender o que aquelas gravações do CD que a professora colocava e nos pedia para transcrever, diziam?
Aos 14 anos eu já precisava de ‘táticas de guerra’ para poder me virar dentro de uma sala de aula com mais quarenta colegas e vários professores que falavam de costas para mim enquanto escreviam no quadro.
Aos 15 anos, eu já vivia apavorada se o telefone de casa tocasse e fosse para mim. Ficava destruída por dentro cada vez que uma colega ou um namorado me dizia no recreio do colégio: “Poxa, como é estranho te ligar. Pergunto “A” e você responde “Z”!”
Aos 16 anos, meu mundo caiu. “Deficiência auditiva neurosensorial progressiva de caráter severo“. Lembro como se fosse agora. Eu e a mãe no consultório médico, ela aos prantos chorando desesperada, e eu estática, olhando para a janela e pensando: “Porque isso aconteceu comigo?“
O post completo você lê aqui.
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Boa semana!
Beijos,
Paula